A restauração do sacerdócio na dispensação de Joseph Smith teve início muito antes da vinda de João Batista em 1829 (D&C 13). Joseph Smith não apenas recebeu mensageiros que lhe entregaram chaves do sacerdócio, mas ele próprio foi um dos mensageiros divinos com a missão de restaurar o governo de Deus.
Em uma revelação dada em 1832, Cristo disse que “sem suas ordenanças e a autoridade do sacerdócio, o poder da divindade não se manifesta aos homens na carne; pois sem isso [o sacerdócio], nenhum homem pode ver a face de Deus, o Pai, e viver” (D&C 84:21-22).
No entanto, aos 14 anos Joseph Smith viu o Pai e seu Filho e sobreviveu. Como isso teria sido possível sem uma ordenação prévia ao sacerdócio? É minha opinião que isso foi possível porque Joseph Smith havia nascido com uma porção de autoridade sacerdotal, ou com uma ordenação prévia ao seu nascimento em 1805.
A Joseph Smith também foi dito, mais tarde em 1832, que sua família havia preservado uma linhagem do sacerdócio, desconhecida ao mundo:
Portanto assim diz o Senhor a vós, com quem o sacerdócio continuou através da linhagem de vossos pais—
Porque sois herdeiros legais segundo a carne e fostes escondidos do mundo com Cristo, em Deus—
Portanto vossa vida e o sacerdócio permaneceram; e é necessário que permaneçam por meio de vós e de vossa linhagem, até a restauração de todas as coisas proferidas pela boca de todos os santos profetas desde o princípio do mundo. (D&C 86:8-10).
Um “herdeiro legal” é um herdeiro de acordo com a lei de Deus, ou seja, de acordo com o sacerdócio, o qual foi definido por Joseph Smith como “uma lei perfeita de teocracia” (History of the Church, 5:554-556). Tal herança lhe foi dada “segundo a carne”, ou seu corpo físico, ao nascer em uma família que havia preservado certa linha de autoridade divina – a família Smith.
Temos aqui, portanto, o conceito de que indivíduos podem receber a autoridade do sacerdócio através do nascimento, com um paralelo entre o biológico e o espiritual – uma ideia obviamente delicada e perigosa, a qual pode abrir as portas para o racismo e elitismo, se não manuseada com cuidado.
O nascimento seria uma ordenança do sacerdócio, dada por Pais Celestiais mediante revelação e de acordo com as necessidades do indivíduo. Ao invés de pensarmos em termos de melhor-pior e digno-indigno, deveríamos entender nossas condições de nascimento como diferentes oportunidades de crescimento e aprendizado espiritual, assim como oportunidades para abençoar a vida daqueles ao nosso redor. Teria a Madre Teresa de Calcutá levado o amor de Cristo a tantas pessoas se houvesse nascido em uma família mórmon de Utah? Duvido muito.
Como definir e nomear esse sacerdócio herdado por nascimento? Há que se reconhecer, primeiramente, o quão limitada e mesmo confusa é nossa terminologia para tratar do sacerdócio no mormonismo. E que sequer corresponde aos ensinamentos mais elaborados de Joseph Smith sobre as três grandes ordens.
Tal sacerdócio tem uma natureza claramente paterna/materna, o que nos leva a crer que esse sacerdócio com o qual Joseph Smith nasceu era uma porção inicial do sacerdócio patriarcal. Deve-se fazer a ressalva, porém, de que há diferentes porções ou graus em cada ordem do sacerdócio, como explicado pelo Profeta e ilustrado nos símbolos e sinais da investidura. O sacerdócio patriarcal foi conferido por Joseph Smith a certos homens, por imposição de mãos.
O sacerdócio patriarcal foi definido por ele como o “poder Patriarcal de Abraão, o qual é o maior já experimentado nesta igreja” (Words of Joseph Smith, p. 245). Se sacerdócio patriarcal era o sacerdócio de Abraão, e Joseph Smith era um descendente de Abraão, ele teria herdado o sacerdócio de seu ancestral:
Abraão recebeu promessas relativas a sua semente e ao fruto de seus lombos—dos quais tu provéns, meu servo Joseph—promessas que haviam de continuar enquanto eles estivessem no mundo; e quanto a Abraão e sua semente, haviam de continuar fora do mundo; tanto no mundo como fora do mundo continuariam tão inumeráveis quanto as estrelas; ou, se contásseis os grãos de areia na praia, não poderíeis enumerar.
Esta promessa é vossa também, porque sois de Abraão e a promessa foi feita a Abraão; e por essa lei continuam as obras de meu Pai, nas quais ele se glorifica. (D&C 132:30-31).
Por causa da sua linhagem (“a semente de Abraão”), assim como sua posição no sacerdócio (um cabeça de dispensação), Joseph Smith teria que viver as leis requeridas de Abraão. Assim como Abraão, Joseph também foi um pai dos fieis, para o povo de sua dispensação, para abençoar a vida de muitos através do sacerdócio e tendo “o direito do primogênito, ou primeiro homem, que é Adão, através dos pais” (Abr. 1:3).
Ainda que Joseph Smith não tenha detalhado completamente o funcionamento do sacerdócio patriarcal, seus ensinamentos sugerem a existência de um sacerdócio feminino correspondente, o sacerdócio matriarcal. Ele prometeu fazer da Sociedade de Socorro um “reino de sacerdotes” e diversas mulheres foram iniciadas no Quórum dos Ungidos, não apenas recebendo suas investiduras, mas também sendo ordenadas aos ofícios de rainha e sacerdotisa nas Segundas Unções.
O apóstolo Heber C. Kimball afirmou, por exemplo, que Maria estava preparada para ser a mãe do Salvador porque possuía o sacerdócio segundo a ordem do Pai, sugerindo assim uma linhagem sacerdotal feminina em tempos bíblicos:
Vocês encontrarão que Maria era do Sacerdócio Real, o qual é segundo a ordem de Deus (…). (Journal of Discourses 6:125)
Para aqueles que acreditam em múltiplas mortalidades, herdar o sacerdócio por nascimento pode sugerir que em uma provação anterior o indivíduo tenha sido fiel ao ponto de ter o sacerdócio novamente na sua próxima “renovação do corpo”:
Pois aqueles que forem fiéis de modo a obter estes dois sacerdócios de que falei e a magnificar seu chamado serão santificados pelo Espírito para a renovação do corpo. (D&C 84:33)
Há duas linhas de autoridade sacerdotal expostas nas revelações de Doutrina e Convênios, ambas vindas de Adão – uma através de Abel (D&C 84:6-16) e outra através de Sete, descrito como “um homem perfeito” e “a imagem expressa de seu pai” (D&C 107:40). Enquanto a linha vinda através de Abel possui as chaves para os gentios, a linha através de Sete possui as chaves para a Santa Ordem de Deus.
Assim como se acredita que o sacerdócio “de Aarão” existia antes de Aarão, ou o sacerdócio “de Melquisedeque” existia antes de Melquisedeque, igualmente o sacerdócio “de Abraão” – sacerdócio patriarcal – provem da linhagem estabelecida por Adão com seu filho Sete. Essa linhagem chegou a Abraão (Abr. 1) e Joseph Smith (D&C 132). Em outras palavras “o poder Patriarcal de Abraão” não foi apenas “o maior já experimentado nesta igreja”, mas também a maior ordem do sacerdócio estabelecida nesta terra.
Eventos subsequentes seriam necessários para tornar disponíveis certas chaves desse sacerdócio (D&C 110) e mesmo a sua plenitude (D&C 124:28).
Como parte de seu papel divino, Joseph Smith foi ordenado pelo Senhor para ser, à semelhança de Cristo, “uma luz para os gentios, e através deste sacerdócio, um salvador para meu povo Israel” (D&C 86:11).
Depois de haver organizado a Igreja de Cristo – identificada com os gentios (D&C 109:60) – Joseph Smith estabeleceu a Santa Ordem ou Quórum dos Ungidos, onde Joseph Smith estabeleceu sua família sacerdotal através do poder selador restaurado no templo de Kirtland.
O Quórum dos Ungidos deveria, a partir da igreja apostólica gentia, florescer em uma moderna Israel tribal, coligando aqueles que haviam aprendido o evangelho preparatório de Cristo (D&C 84:26-27; 39:06) e estavam dispostos a viver o evangelho do Pai (D&C 88:04-05) Com isso, Joseph Smith se tornava um elo entre Deus e Seu povo, agindo como um salvador e um pai (JS-H 1:38-39).
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